terça-feira, 19 de outubro de 2010

Uma mão lava outra: Quando Deus vira máquina de refrigerantes

A barganha com Deus nas igrejas neopentecostais e nas oraçoes dos crentes


Por Yago Martins

Quando vi, quase não acreditei. Aliás, eu não teria acreditado se não tivesse visto. Era um envelope para por ofertas. Havia, em letras garrafais, sobre um fundo vermelho: "Grande campanha da prosperidade". Em meio a uma nuvem de versos descontextualizados, estava um espaço para por o valor da oferta. No verso do envelope havia: "Senhor, eu quero:". Como em uma prova de múltipla escolha, tinha várias opções para marcar, como prosperidade na saúde, emprego, aumento de salário, geladeira, fogão, forno microondas, jogo de cozinha, jogo de sofá, calçados, roupas, computador, sítio e outros.

Ah, meu irmão, eu fiquei louco. Sabe quando o zelo pela Palavra se mistura com nossa carnalidade? Foi exatamente isso. Eu queria bater muito no pastor da sinagoga de satã que promoveu essa campanha. Mas que doideira! Como alguém pode viver algo assim e ainda por cima chamar isso de cristianismo? Como alguém pode fazer um “toma lá, da cá” com Deus? Eu dou minha oferta, marco a opção de minha preferência e recebo o que quero, como numa máquina de refrigerantes. É como dizem, sabe... uma mão lava a outra. Nós damos a Deus nossa semente e Ele nos dá os acres de terra. É a barganha santa...

Sabe, diante de tudo isso, existe algo que me incomoda muito. Quando eu olho para dentro de mim e analiso minhas orações, percebo que eu também tento barganhar com Deus. Não que eu dê dinheiro em troca de bens, mas, muitas vezes, eu entrego minha oração a Deus com o único intuito de receber algo em troca. Às vezes eu vou a Deus não para ter comunhão com Ele, mas apenas para pedir por alguém ou por mim, independente do relacionamento paternal que deveríamos ter. Não para adorá-lo incondicionalmente, mas por que eu quero algo e, mesmo di-zendo “que seja feita a sua vontade”, tenho que a oração é o preço para conseguir. É como di-zem, sabe... uma mão lava a outra.

Claro que existem proporções a considerar, mas quando eu olho com cuidado, vez por ou-tra não vejo muita diferença entre minhas orações e a "Grande campanha da prosperidade". Pa-rece que a vontade de pagar por algo já vem na má natureza humana e isso corrompe até nossas orações. Lutar contra o sentimento de orar apenas por um fim tem se tornado minha luta diária. Agora, antes de dobrar meus joelhos já sabendo por quem ou por que orar, tento me relacionar com meu Senhor, sem esperar nada em troca. Espero que Deus continue operando no meu coração e me levando a adorá-lo incondicionalmente. Não apenas pedindo benção para mim ou para outros, mas sendo filho. E como filho, me relacionando com meu Pai. Não quero dar mi-nha oração a Deus e, inconscientemente, marcar quais bênçãos eu quero receber. Que Deus nos dê força para rasgar o nosso envelope para ofertas e substituí-lo por uma comunhão real e vida com aquele que nos ouve e conhece nossas necessidades.


***
Yago Martins é colaborador dos sites VoltemosAoEvangelhoTeologia e Vida e amigo da galera do Púlpito Cristão.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Eu? Como Daniel?





                     "Pode jogar"! Ordenou assim o rei Dario. Paro para imaginar como Dario deve ter analisado o tamanho de cada leão que estava dentro daquela cova. Talvez Daniel, após ser jogado, ainda não tivesse nem ao menos se colocado em pé dentro daquele buraco quando o rei gritou, dizendo: "O teu Deus, a quem tu continuamente serves, ele te livrará"!
                     Talvez estas palavras tenham fortalecido ainda mais a Daniel, embora, já beirando os 90 anos, ele tivesse contemplado, muitas vezes, a ação de Deus em seu favor. Repentinamente, uma sombra começa a tomar conta da cova. A pedra é colocada como tampa e Dario e seus maiorais a selam para que ninguém viesse alterar a sentença do rei. Agora, era somente Daniel e os leões. Talvez famintos e nervosos por estarem presos em um lugar escuro . Você consegue visualizar esta cena? E se fosse você? O que iria fazer? Como iria reagir? 
                    Temos vivido momentos nos dias atuais que nos fazem sentir na posição de Daniel. O inimigo de nossa alma tem se levantado contra os filhos de Deus, contra aqueles que seguem uma vida de adoração e santidade.  O rei Dario embora soubesse que Daniel era inocente das acusações a que lhe eram atribuídas (Dn 6.13-14) demonstrou claramente acreditar que o Deus de Daniel iria fazer algo extraordinário (Dn 6.16).Talvez até por este motivo, ele tenha cumprido à risca seu decreto. Fico imaginando o pensamento do rei enquanto selava a boca da cova: "Quando abrirmos esta cova novamente, ele estará vivo. Tenho certeza. Eu sei que ele serve ao mesmo Deus de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego".  
                      O diabo conhece o poder do nosso Deus. Não quero comparar o rei Dario com o diabo. Quero apenas que você saiba que quando as lutas se tornam intensas e imensas e você já quase sem fé, se vê preso em uma cova assim como Daniel, o desejo do inimigo é selar a boca dessa cova. Ele não vai descansar enquanto isso não acontecer. O rei manifestou uma esperança de que o Deus de Daniel o livraria dos leões. Já o inimigo, manifesta somente o desejo de ver-te destruído, maldizendo, enfraquecido, abatido e descrente. O inimigo também sabe, assim como o rei Dario, que se você (mesmo não sendo tão parecido com Daniel em fidelidade, integridade, santidade) clamar ao Senhor por socorro, Ele virá com poder e grande Glória e te livrará. Deus não necessitará nem ao menos enviar o seu anjo. Se necessário for, Ele se moverá de Seu trono por você.
                     Daniel confiou em Deus num momento difícil e devemos ter essa mesma confiança, crendo que em tais momentos, Ele se manifestará em justiça por nós. Daniel era temente a Deus. Ele cria na fidelidade do Deus a quem servia. Sabia que Deus em nenhum momento o desampararia. 
                     E você? Como se encontra perante o Senhor? Será que você pode dizer assim como o rei Dario em Dn 6.27? "Ele, (o Deus de Daniel) livra, e salva, e opera sinais e maravilhas no céu e na terra!"
                    A fé não se baseia apenas em crer em Deus, mas também em obedecê-lo, em arrepender-se dos pecados e transgressões e voltar-se para Ele com desejos de transformação e nova vivência, como numa mudança de "estilo de vida". A fé inclui ainda sincera dedicação pessoal e fidelidade a Jesus Cristo. Lembre-se sempre: a fé já está embutida em nós. Exerça-a assim como Daniel. Sirva a Deus assim como ele, e você será abençoado sempre, como ele foi (Dn 6.28).

Ósculos e amplexos!